Ela não para de bolir o seu
tunda.
A faixa-título, “Flor Morena”,
foi um presente do amigo Arlindo Cruz e de Zeca Pagodinho. Zeca compôs a música
para sua filha, mas deu a Aline a responsabilidade de eternizá-la, mostrando a
força das mulheres. “É uma música linda, porque retrata a mulher de forma muito
doce, como uma flor, enquanto tem tanta letra por aí que bombardeia as
mulheres.” O cuidado com o que canta também ajudou Aline a decidir colocar no
repertório “Caçuá”, de Paulo César Pinheiro com o baiano Edil Pacheco. Quando
ouviu, apaixonou-se. Mas não desencanou até descobrir o que queria dizer uma
palavra na frase “Ela não para de bolir o seu tunda”. Aos risos, Paulo César
traduziu “tunda” para “bumbum”.
Outra dupla de ouro gravada por Aline Calixto
é Nei Lopes e Moacyr Luz: a cantora interpreta o sincretismo em “Ecumenismo”.
Parceiros da nova geração, João Cavalcanti e Joca Perpignan enviaram “De Partir
Chegar” para conquistar a cantora. Segundo o líder do grupo Casuarina, a música
é uma “cirandatu”, ou seja, uma mistura de ciranda com maracatu. Outra
conquista foi a de Peu Meurray, um baiano que já acompanhou muitas feras e
entregou a Aline uma música que fala sobre a universalidade do samba. “Cabila”
teve partes gravadas na Bahia, assim como “Cafuso” (Toninho Geraes) e “Caçuá”. A
Bahia, por sinal, acolheu muito bem Aline Calixto. Ela foi convidada a subir ao
palco com Carlinhos Brown, Ivete Sangalo e Gilberto Gil no Sarau do Brow e pôde ver de perto fãs cantando suas
músicas.
“Reza Forte” é uma música de Rodrigo Maranhão
e Mauro Reza que homenageia Rio e Minas: “Eu misturo samba enredo com tambor
mineiro na música.” Do baú de memórias, Aline resgatou “Je Suis la Maria ”, de Dora Lopes, uma
cantora da era do rádio descoberta no final da década de 40 por Ary Barroso e
esquecida pelo tempo. O disco conta ainda com “Blá blá blá” (Toninho Geraes),
“Me Deixa Que Eu Quero Sambar” (Mauro Diniz)
e uma belíssima releitura em voz e violão de uma canção de Paulinho da
Viola da abençoada por ele mesmo por uma grande coincidência: no dia em que Aline estava
gravando “Coração Vulgar” no estúdio, soube que o Príncipe do Samba estava na
sala ao lado. Mesmo nervosa, foi até lá, convidou o ídolo para ouvir o que já
estava registrado, e ganhou elogios.
"Desde a infância sempre
ouvi muita música, principalmente com meu pai: Paulinho da Viola, Roberto
Carlos, Dorival Caymmi, Maria Bethânia, Cartola, Tim Maia, Gonzaguinha. Saí do
Rio e fui pra Belo Horizonte, mas teve um período em que fui estudar em Viçosa,
em 2000. Lá, concomitantemente com a faculdade de Geografia, comecei a fazer um
trabalho com samba, com meus amigos", conta. Formaram então uma roda de
samba semanal. "Criamos uma cena onde não havia nenhuma. Isso foi muito
interessante, porque inclusive esse movimento que a gente criou de tocar samba
toda quinta-feira foi num local muito voltado para o rock. Acabou que a coisa
ficou muito diversificada e virou ponto de referência."
Lá ela já fazia releituras de
grandes clássicos do samba, mas também incluía composições próprias e de novos
autores. É o caso de Original (de Santão e Sandro Borges, da cidade de Rio
Pombas), que abre o CD. Outros novos mineiros presentes no álbum são Rodrigo
Santiago (Rainha das Águas, parceria com Douglas Couto), Toninho Geraes e
Toninho Nascimento (Tudo Que Sou, primeira faixa escolhida pela gravadora para
tocar nas rádios), Affonsinho (Enfeitiçado) e o sensacional Renegado (Faz o
Seguinte), mais conhecido como rapper. "Renegado é um grande dialogador.
Consegue estabelecer pontes muito interessantes e não só com o samba", diz.