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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

ALINE CALIXTO – CD Flor Morena


Ela não para de bolir o seu tunda.

A faixa-título, “Flor Morena”, foi um presente do amigo Arlindo Cruz e de Zeca Pagodinho. Zeca compôs a música para sua filha, mas deu a Aline a responsabilidade de eternizá-la, mostrando a força das mulheres. “É uma música linda, porque retrata a mulher de forma muito doce, como uma flor, enquanto tem tanta letra por aí que bombardeia as mulheres.” O cuidado com o que canta também ajudou Aline a decidir colocar no repertório “Caçuá”, de Paulo César Pinheiro com o baiano Edil Pacheco. Quando ouviu, apaixonou-se. Mas não desencanou até descobrir o que queria dizer uma palavra na frase “Ela não para de bolir o seu tunda”. Aos risos, Paulo César traduziu “tunda” para “bumbum”.

 Outra dupla de ouro gravada por Aline Calixto é Nei Lopes e Moacyr Luz: a cantora interpreta o sincretismo em “Ecumenismo”. Parceiros da nova geração, João Cavalcanti e Joca Perpignan enviaram “De Partir Chegar” para conquistar a cantora. Segundo o líder do grupo Casuarina, a música é uma “cirandatu”, ou seja, uma mistura de ciranda com maracatu. Outra conquista foi a de Peu Meurray, um baiano que já acompanhou muitas feras e entregou a Aline uma música que fala sobre a universalidade do samba. “Cabila” teve partes gravadas na Bahia, assim como “Cafuso” (Toninho Geraes) e “Caçuá”. A Bahia, por sinal, acolheu muito bem Aline Calixto. Ela foi convidada a subir ao palco com Carlinhos Brown, Ivete Sangalo e Gilberto Gil no Sarau do Brow  e pôde ver de perto fãs cantando suas músicas.

 “Reza Forte” é uma música de Rodrigo Maranhão e Mauro Reza que homenageia Rio e Minas: “Eu misturo samba enredo com tambor mineiro na música.” Do baú de memórias, Aline resgatou “Je Suis la Maria”, de Dora Lopes, uma cantora da era do rádio descoberta no final da década de 40 por Ary Barroso e esquecida pelo tempo. O disco conta ainda com “Blá blá blá” (Toninho Geraes), “Me Deixa Que Eu Quero Sambar” (Mauro Diniz)  e uma belíssima releitura em voz e violão de uma canção de Paulinho da Viola da abençoada por ele mesmo por uma grande coincidência: no dia em que Aline estava gravando “Coração Vulgar” no estúdio, soube que o Príncipe do Samba estava na sala ao lado. Mesmo nervosa, foi até lá, convidou o ídolo para ouvir o que já estava registrado, e ganhou elogios.


"Desde a infância sempre ouvi muita música, principalmente com meu pai: Paulinho da Viola, Roberto Carlos, Dorival Caymmi, Maria Bethânia, Cartola, Tim Maia, Gonzaguinha. Saí do Rio e fui pra Belo Horizonte, mas teve um período em que fui estudar em Viçosa, em 2000. Lá, concomitantemente com a faculdade de Geografia, comecei a fazer um trabalho com samba, com meus amigos", conta. Formaram então uma roda de samba semanal. "Criamos uma cena onde não havia nenhuma. Isso foi muito interessante, porque inclusive esse movimento que a gente criou de tocar samba toda quinta-feira foi num local muito voltado para o rock. Acabou que a coisa ficou muito diversificada e virou ponto de referência."

Lá ela já fazia releituras de grandes clássicos do samba, mas também incluía composições próprias e de novos autores. É o caso de Original (de Santão e Sandro Borges, da cidade de Rio Pombas), que abre o CD. Outros novos mineiros presentes no álbum são Rodrigo Santiago (Rainha das Águas, parceria com Douglas Couto), Toninho Geraes e Toninho Nascimento (Tudo Que Sou, primeira faixa escolhida pela gravadora para tocar nas rádios), Affonsinho (Enfeitiçado) e o sensacional Renegado (Faz o Seguinte), mais conhecido como rapper. "Renegado é um grande dialogador. Consegue estabelecer pontes muito interessantes e não só com o samba", diz.

Fonte:  http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,aline-calixto-une-rio-e-minas-pelo-samba,392467,0.htm