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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Carmem Queiroz - Meu amigo Paulinho Amaral


Nosso amigo Paulinho Amaral se despediu da gente. Mas é como se já viesse se despedindo ao longo desses seis anos quando optou por se manter reservado em seu cantinho, brigando solitário pela vida, tentando curar os males da pressão sempre alta, da gota, do tratamento de hemodiálise...

Paulinho apesar da solidão que se impôs me ligava de vez em quando. Todo ano fazia questão que alguns amigos fossem almoçar com ele para comemorar seu aniversário. Alegremente eu fazia parte desse grupo. Nessas várias ocasiões Paulinho sempre contava risonho como foi que nos conhecemos.

Lembrava então que lá nos tempos do Bom Motivo, mil novecentos e noventa e alguma coisa, ele, um frequentador do bar, eu, uma cantora com um primeiro trabalho em disco. Ele prestigiava e segredava ao dono do bar, Roberto Lapicirella, amigo em comum, que o que queria mesmo era ser amigo da cantora e daquela turma de músicos tão animada que tocava e frequentava o boteco. E aconteceu da forma mais inusitada quando Roberto, sem sua autorização, acrescentou à sua conta um disco meu obrigando-o a comprá-lo. Sem saída, a única coisa que exigiu foi um autógrafo. Nunca mais se esqueceu disso.

E a gente manteve uma amizade tão bonita e sincera. Foi ele quem montou e dirigiu a primeira banda a me acompanhar – dizia que eu tinha que me profissionalizar. Amante da boa música e de um bom gosto musical, sugeriu, tocou e me ensinou para o meu repertório, além de outras tantas, as belas canções “Jamais” (Jacó do Bandolim/Luiz Bittencourt), “Nenhuma lágrima” (Sueli Costa), “Estrada do Sertão” (João Pernambuco/Hermínio Bello de Carvalho), afirmando que eram apropriadas para minha voz. Fizeram realmente a diferença, tanto que vim gravá-las mais tarde nos meus 3º e 4º CDs e foi como se eu o homenageasse (acho que disse isso a ele, não estou bem certa, mas acho que disse sim...).

Um dos mais recentes e melhores presentes que me deu foi sair de seu refúgio depois de tanto tempo sem frequentar atividades sociais e foi me ver no show de lançamento de meu mais recente CD, lá no SESC Pompéia, dizendo que não poderia perder. Esse era o meu amigo Paulo Amaral de muitos e muitos momentos fraternos e demonstrações de carinho.

Agora ele vai cumprir uma nova etapa em sua evolução. A espiritualização que começou por aqui busca o tempo de aceleração. Ele já está sendo mais feliz. Fique em paz meu amigo, você merece.