José Baltazar da Silva, Zé. Que
também me chamava de Zé, pois também sou Zé. Pode ter algo mais mineiro. Amigo de
meu pai desde que nos mudamos do interior paulista para o bairro do Itapegica
em Guarulhos, perto da Bauduco e da Gail. Nos mudamos junto com a mãe de meu
pai, minha Vô Rosa, que minha filha ficou decepcionada ao conhece-la, pois quando
lá chegamos minha Vô ROSA estava com uma blusinha AZUL, e minha filha GABI, em
seu mundo de fantasia, queria ver a sua Bisa (cor) ROSA.
Pequeno ainda, mas lembro de uma
viagem que meu Pai fez para uma cidade do interior de Minas para buscar o
último irmão (e família) do meu Compadre Zé para vir morar em Guarulhos. Todos
viajaram num Jeep com capota de lona. Até hoje não sei como veio tanta gente.
Na pequena temporada que moramos
na cidade de Taubaté foi um deleite. Da cidade natal de Monteiro Lobato viajávamos,
nossas famílias, em uma Rural Willys de propriedade de meu Compadre Zé (meu pai
trabalhava na Willys) capota branca e parte inferior azul. Fomos até Campos do
Jordão, Ubatuba pela serra de Taubaté ainda sem asfalto, São Lourenço,
inclusive nesta viagem decorei a letra de “Ave Maria no Morro” de Herivelto
Martins, no porta malas da tal Rural, que estava publica em jornal local.
Zé era o cara aventureiro.
Resolviam, ele e sua esposa Minga, juntavam as coisas e iam acampar na praia.
Quando digo praia é praia mesmo. Estacionavam a Rural na areia da praia,
estendiam uma lona e ali passavam 2, 3 dias. Uma de suas praias preferidas era
aquela dos pescadores, última praia antes de chegar na balsa Guarujá –
Bertioga.
Já crescido fui ser aprendiz de
eletrônica em sua oficina. Na época cursava o técnico no Liceu Coração de
Jesus. Meu compadre Zé era um cara especial. Sempre me tratou com muito respeito,
e nossas conversas eram de adultos. Adolescente que era, vocês podem imaginar o
tremendo efeito que isto acarretou em minha formação. Me ensinava a pensar, a
construir e não apenas resolver problemas. Me deu fórmulas para ganhar o mundo,
aprendi sem saber o que era tolerância, a conviver em harmonia.
Mas o destino assim quis e fui
ser bancário. Mas ali havia acontecido algo, havia nascido uma amizade, um
amigo para toda vida e...morte. Foi meu cliente no banco, me ensinou a gostar
de churrasco de costela de boi, fazíamos um buraco no chão, acendíamos o
carvão, quatro blocos de cimento, alguns espetos, cervejas e um belo churrasco.
Certa ocasião convidei o também
amigo Dadau para irmos a um churrasco numa cobertura na praia. Dadau não hesitou
e partimos. Na realidade fomos fazer o telhado na casa que meu Compadre Zé
estava construindo na Praia, a cobertura. O Churrasco, isto sim, um belo
carneiro na churrasqueira de bafo.
Que bom poder lembrar destas
coisas. Lembrar que estivemos juntos em muitos momentos, e que nossas famílias
partilharam destes momentos.
Ficávamos horas falando sobre a
ciência, tecnologia. Por volta do ano de 1975, Zé me contou que havia um
aparelho que gravava imagens e sons da TV. Achei aquilo fantástico, sempre quis
ter imagens, colecionar momentos, e até hoje ainda sou assim. Na década de 80
chega ao Brasil os Videocassetes. Entrei em um consórcio e após intermináveis
parcelas pude afinal ter o meu gravador de imagens.
Como não poderia deixar de ser Zé
e Minga foram meus padrinhos de casamento. Mas o destino, e avida nos leva por caminhos
nunca esperados. Nossas vidas mudam, as dificuldades aparecem. Não percebemos que
o que realmente importa está ficando longe. Perto fisicamente, mas longe da
realidade, e encontros com aqueles que mais são importantes vão rareando, não
foi a primeira nem será a ultima.
Meu compadre Zé ficou doente,
melhorou, mas sempre ficam sequelas. No dia 07-11-2015 recebemos a notícia de
sua morte. Tenho certeza que está com o Grande Arquiteto e que sua transição
foi tranquila. Morre compadre Zé. Que me chamava de Zé, pois também sou Zé,
pode ter algo mais Mineiro. Zé logo estarei chegando se prepara para nossas
conversas.
Carlos José Fernandes Neto