PÁGINAS

sábado, 7 de novembro de 2015

Morreu Meu Compadre Zé

Morreu José Baltazar da Silva, meu Compadre



José Baltazar da Silva, Zé. Que também me chamava de Zé, pois também sou Zé. Pode ter algo mais mineiro. Amigo de meu pai desde que nos mudamos do interior paulista para o bairro do Itapegica em Guarulhos, perto da Bauduco e da Gail. Nos mudamos junto com a mãe de meu pai, minha Vô Rosa, que minha filha ficou decepcionada ao conhece-la, pois quando lá chegamos minha Vô ROSA estava com uma blusinha AZUL, e minha filha GABI, em seu mundo de fantasia, queria ver a sua Bisa (cor) ROSA.

Pequeno ainda, mas lembro de uma viagem que meu Pai fez para uma cidade do interior de Minas para buscar o último irmão (e família) do meu Compadre Zé para vir morar em Guarulhos. Todos viajaram num Jeep com capota de lona. Até hoje não sei como veio tanta gente.

Na pequena temporada que moramos na cidade de Taubaté foi um deleite. Da cidade natal de Monteiro Lobato viajávamos, nossas famílias, em uma Rural Willys de propriedade de meu Compadre Zé (meu pai trabalhava na Willys) capota branca e parte inferior azul. Fomos até Campos do Jordão, Ubatuba pela serra de Taubaté ainda sem asfalto, São Lourenço, inclusive nesta viagem decorei a letra de “Ave Maria no Morro” de Herivelto Martins, no porta malas da tal Rural, que estava publica em jornal local.

Zé era o cara aventureiro. Resolviam, ele e sua esposa Minga, juntavam as coisas e iam acampar na praia. Quando digo praia é praia mesmo. Estacionavam a Rural na areia da praia, estendiam uma lona e ali passavam 2, 3 dias. Uma de suas praias preferidas era aquela dos pescadores, última praia antes de chegar na balsa Guarujá – Bertioga.

Já crescido fui ser aprendiz de eletrônica em sua oficina. Na época cursava o técnico no Liceu Coração de Jesus. Meu compadre Zé era um cara especial. Sempre me tratou com muito respeito, e nossas conversas eram de adultos. Adolescente que era, vocês podem imaginar o tremendo efeito que isto acarretou em minha formação. Me ensinava a pensar, a construir e não apenas resolver problemas. Me deu fórmulas para ganhar o mundo, aprendi sem saber o que era tolerância, a conviver em harmonia.

Mas o destino assim quis e fui ser bancário. Mas ali havia acontecido algo, havia nascido uma amizade, um amigo para toda vida e...morte. Foi meu cliente no banco, me ensinou a gostar de churrasco de costela de boi, fazíamos um buraco no chão, acendíamos o carvão, quatro blocos de cimento, alguns espetos, cervejas e um belo churrasco.

Certa ocasião convidei o também amigo Dadau para irmos a um churrasco numa cobertura na praia. Dadau não hesitou e partimos. Na realidade fomos fazer o telhado na casa que meu Compadre Zé estava construindo na Praia, a cobertura. O Churrasco, isto sim, um belo carneiro na churrasqueira de bafo.

Que bom poder lembrar destas coisas. Lembrar que estivemos juntos em muitos momentos, e que nossas famílias partilharam destes momentos.

Ficávamos horas falando sobre a ciência, tecnologia. Por volta do ano de 1975, Zé me contou que havia um aparelho que gravava imagens e sons da TV. Achei aquilo fantástico, sempre quis ter imagens, colecionar momentos, e até hoje ainda sou assim. Na década de 80 chega ao Brasil os Videocassetes. Entrei em um consórcio e após intermináveis parcelas pude afinal ter o meu gravador de imagens.

Como não poderia deixar de ser Zé e Minga foram meus padrinhos de casamento. Mas o destino, e avida nos leva por caminhos nunca esperados. Nossas vidas mudam, as dificuldades aparecem. Não percebemos que o que realmente importa está ficando longe. Perto fisicamente, mas longe da realidade, e encontros com aqueles que mais são importantes vão rareando, não foi a primeira nem será a ultima.

Meu compadre Zé ficou doente, melhorou, mas sempre ficam sequelas. No dia 07-11-2015 recebemos a notícia de sua morte. Tenho certeza que está com o Grande Arquiteto e que sua transição foi tranquila. Morre compadre Zé. Que me chamava de Zé, pois também sou Zé, pode ter algo mais Mineiro. Zé logo estarei chegando se prepara para nossas conversas.

Carlos José Fernandes Neto