Cor da Arte
Carlos J Fernandes Neto
Era Uma Vez Uma
sociedade chamada Tons de Cinza, uma pequena localidade, afastada e esquecida
por todos. Tendia para a Luz, mas nunca seria Clara totalmente para demonstrar
que nada será como queremos e poderia ser, e de outro lado tendia para o Escuro,
mas nunca chegaria ao Escuro total propriamente dito, pois sempre a escuridão
ainda poderia ser maior.
A elaboração das
leis era de responsabilidade da classe legisladora e aos seus descendentes de
sangue – apesar de passarem por processo votante, sempre apoiado pelo executivo
e negociado com o judiciário, e tudo faziam para perpetuar os Tons de Cinza de
forma a garantir continuidade à pequena elite controladora do sistema Cinzento.
O alimento
faltava, a saúde era precária, a educação só era pensada para a pequena elite
do Sistema Cinzento, moradia então, essa é melhor nem contar. Os acordos,
negociatas e corrupções que geram o prejuízo ao bem público eram corriqueiros,
e as leis mudavam a cada momento para melhor beneficiar os infratores.
Os anciões dão
conta que há muito o departamento de cultura, arte e entretenimento foi
praticamente excluído do dia a dia desta sociedade acinzentada. Seus fazedores
de arte, brincantes, cantadores e contadores de história e toda a classe de
artistas foram por muito tempo ridicularizado e praticamente desapareceu, pois
em nada poderia ajudar, somente agregar mais despesas. O povo foi
entristecendo, não expressava mais seus sentimentos, não cantava, e com tudo
isto reduzia seu consumo.
O processo
produtivo foi declinando e para manter seus lucros os preços foram aumentando e
as contrapartidas pelo trabalho foram sendo reduzidas com prejuízo dos postos
de trabalho. A situação só piorava, pois fica “escuro” (para nós seria claro)
que com menos pessoas para produzir, comprar e fomentar o mercado todo estava
ruindo.
Mas, num período
de transição corruptiva novos senhores - que ascenderam ao poder abruptamente,
implantaram em menos de três meses um sistema revolucionário para educação –
tudo o que não foi conseguido em mais de 500 anos agora resolvido em apenas
três meses, verdadeiros pensadores, filósofos e gênios.
No meio de tanto
caos um grupo mambembe adentra a cidade cinzenta com seus contorcionistas – o
povo precisava mesmo, mágicos – mais que necessários, dançarinas – de dançar o
povo entendia, atores e atrizes, poetas e escritores, músicos e cantantes,
foram seguidos por uma multidão de brincantes chamado irritantemente de povo.
Por onde passavam,
deixavam sinais das cores, as serpentinas, os confetes, as alegorias, as
fantasias, os sonhos, as alegrias. Lembraram de seus ancestrais, se reuniam em
torno das fogueiras, cantaram e contaram as histórias de seus avós como se
nunca as tivessem cantado ou contado.
Começa uma busca
por tecidos coloridos, por adereços, por livros. Os locais públicos começam a
ser ocupado culturalmente pelos fazedores de arte. Em pouco tempo a economia
volta a aquecer, o povo mais cheio
de vida consegue produzir mais, o ganhos
aumentam e a contrapartida pelo trabalho também. Novos interlocutores são
eleitos, o equipamento público fica mais enxuto, profissionais de suas áreas
resolvem problemas de moradia, educação, saúde e necessidades básicas de
higiene. O arco íris da vida volta clareando de vez a pequena localidade
cinzenta.
A Arte e a Cultura
são o alimento da alma, sem o qual uma sociedade não pode entender sua
identidade, e um povo que não tem sua identidade cultural é dominado e facilmente
controlado ao bel prazer de seus mandatários. A arte, cultura e todas as suas
linguagens não dá conta de tamanha envergadura sozinha como pudemos ver nesta
obra de ficção, mas é inegável a sua importância para a identidade cultural de
um povo, participando do desenvolvimento social e cultural de uma nação.
Obs
– Trata-se de uma obra de ficção, qualquer semelhança é mera coincidência.
Em
caso de agravamento da falta de cultura PROCURE um Artista.
Esta ficção foi a forma encontrada para
poder agradecer os aplausos – e vaias, que recebemos durante nossa trajetória.
Os integrantes do Samba do Sino desejam um
Natal e Ano Novo muito COLORIDO para toda a nação!