por Carlos J Fernandes
Simples assim: Dadau. Companheiro de Vila, Amigo de Vida.
Estive tentando lembrar um momento, um simples momento que esse cara não estava
sorrindo. Difícil, não encontrei. Era alegre por demais. Era sim.
Trabalhou em serviços pontuais com equipes de segurança para
shows musicais por todo país. Pronto, era o suficiente para seu divertimento
pós adolescente, tudo era muito simples. Assistia o show gratuitamente e ainda
ganhava algum. Chamava atenção seu gosto pelo Rock pesado, do qual falava com
propriedade: Bandas, Discos, Sucessos, etc.
Na época surgia forte a construção de um aeroporto
internacional na cidade, justamente numa baixada onde também já havia a base
área, local sujeito a constante neblina. Não queríamos o aeroporto na cidade.
Pois bem, Dadau se juntou a uns amigos que montaram a rádio pirata NEBLINA, o
nome não poderia ser mais sugestivo. Mas
não houve jeito. O aeroporto foi construído, passou por cima de uma parte da
estrada de Nazareth que teve que sofrer um grande desvio. A estrada levava a
cidade de Nazareth e também a Vasconcelândia, parque temático tipo Disneylândia,
idealizado por José de Vasconcelos que fracassou.
E foi assim até uma heroína adentrar sua vida. A coisa mudou
com Sssssolange (era assim que brincava carinhosamente com ela, imitando o som de
uma serpente, porem acredito que ela não gostava). Foi ordem na casa, ou mais
ou menos. Por sua indicação arrumou emprego, carteira assinada, férias, décimo
terceiro e tudo mais. Assim passou a assistir só os shows que interessava, e
ter um orçamento mais organizado.
Tudo mudou. Entrou na Faculdade, foi cursar Administração.
Até este momento seu maior contato era com meu irmão Vicente. Bom aconteceu de
estar cursando também administração, e por vias do destino ficamos na mesma
classe. Haja colação.
Aulas de sexta feira era difícil de assistir, era dia de marcar
ponto no truco e comer pipoca com queijo parmesão frito. Entre idas e vindas,
pegamos o canudo de papel, meu canudo de papel, mas a faculdade era
particular... (Martinho da Vila).
Um certo magnata da cidade resolveu se candidatar para o
executivo municipal. A artimanha foi escrever nos muros “Fulano de tal” aceite
por favor, como se fosse uma pichação de um pedido da população. Combinamos eu,
Dadau e meu Fiat 147 (como foi valente esse automóvel). Compramos umas latas de
spray de tinta preto, e na sexta feira á noite saímos pichando os muros onde já
havia as pichações com um tremendo NÃO. Então ficou assim “Fulano de tal” NÃO aceite por favor. Para finalizar
paramos no Greguinho para comer uns pedaços de pizza, época que éramos membros
da JS.
Nas férias de julho, eu e meu cunhado resolvemos passar uma semana acampados na
praia de Camburizinho, antes da praia de Boiçucanga, quem me apresentou a este
cenário especial foi meu amigo Beto Calou e sua esposa Maria José (hoje moram
em Fortaleza e Juazeiro). Fiat 147 montado com as tralhas encontramos no
caminho Dadau. De pronto disse: ‘’Também vou...” e foi. Por mais incrível que
possa parecer deve ter sido a semana mais quente da existência no mês de julho,
houve até campeonato de surfe. Estávamos sentados nas pedras observando o
tamanho das ondas que vinham e quebravam abaixo da gente. E foi assim, olha
essa como é grande, essa então é maior ainda, no que veio um baita onda, deu
tempo de sair correndo, quando olhei para traz Dadau tinha paralisado e a onda
quebrou encima dele, foi um perereco para se segurar, resultado: saímos
rapidinho daquelas pedras. Uma noite no centro de Boiçucanga estávamos num
barzinho, meu cunhado com o violão,e a coisa não parava. Certa altura da
madrugada o dono do boteco colocou uma caixa de cerveja no chão ao nosso lado
na varanda, disse: “Até amanhã, não agüentou mais...’ e foi embora.
O tempo havia virado, uma ventania danada. Na volta para o
camping o 147 mal conseguia ficar na pista. Aventura a parte chegamos no
camping. Para ajudar, um cachorro com medo da chuva conseguiu entrar na nossa
barraca, comeu parte de nossa comida e acabou deixando a chuva entrar. Foi o
último dia de nosso acampamento de julho.
Dadau casou, é meu compadre. Eu casei. Minha filha Gabriela
nasceu, poucos meses depois nasceu a sua filha Jéssica. Alguns anos depois
nasceu minha Beatriz e a sua Julia. Tivemos oportunidade de viajar juntos
muitas vezes, acampar com as famílias, festas de fim de ano, almoços de
domingo. Como não agradecer por estes momentos tão maravilhosos. Dadau foi a
maior goteira instalada que conheci, o profano que mais trabalhou para erguer
os pilares de nossa Loja, foi uma Extrema Razão, um número do Grande Arquiteto,
e por fim meu GRANDE IRMÃO.
As outras histórias dessa viagem contarei em outras
oportunidades, bem como muitas outras aventuras com esse grande amigo E IRMÃO
Dadau.
Cara como você vai fazer falta, então vou tentar contar
essas histórias aos pedaços para ir lembrando de você. Que o Grande Arquiteto
te receba de braços abertos e conforte seus familiares.