Lúcia
Gaspar
Bibliotecária
da Fundação Joaquim Nabuco
Edison de Souza Carneiro nasceu
no dia 12 de agosto de 1912, em Salvador, Bahia. Seu pai, Antônio Joaquim de
Souza Carneiro, era engenheiro civil e catedrático da Escola Politécnica da
Bahia.
Fez seus cursos de primeiro e
segundo graus em Salvador, bacharelando-se, no ano de 1936 (turma de 1935), em
Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Estado.
Jornalista, poeta, jurista e
folclorista, dedicou-se desde cedo aos estudos sobre o negro brasileiro,
tornando-se uma das maiores autoridades nacionais sobre os cultos
afro-brasileiros.
Aos dezesseis anos, fez parte do
grupo literário Academia dos Rebeldes (1928-1932), cujo líder era o jornalista
Pinheiro Viegas e que contava também com a participação do escritor Jorge
Amado. Iniciou, nesse ano, sua carreira de jornalista publicando no jornal A
Noite, de Salvador, de 24 a
27 de novembro, uma coletânea de poemas, tipo folhetim, intitulada Musa
Capenga.
No início da década de 1930,
começou a ter interesse pelos cultos afro-brasileiros, o folclore e a cultura
popular. Fez um curso de yorubá, um idioma falado no oeste da África,
principalmente na Nigéria, Benim, Togo e Serra Leoa. Aqui no Brasil é falado, principalmente, em
ritos religiosos de origem africana, sendo conhecido como nagô.
Contratado pelo jornal Estado da
Bahia (1936), escrevia sobre os ritos e festas dos candomblés baianos, sendo um
dos maiores defensores da liberdade para a sua prática. Passou depois de
colaborador a redator efetivo do periódico e, no ano seguinte, trabalhou alguns
meses também no Bahia-Jornal. Foi colaborador ainda, em diferentes épocas, dos
periódicos A Luva, O Momento, Revista Flama, Boletim de Ariel, Seiva, Diretrizes.
Em 1937, organizou o 2º Congresso
Afro-Brasileiro, realizado em Salvador no período de 11 a 20 de janeiro. No seu
discurso de abertura Édison Carneiro assim o definiu:
[...] Este Congresso tem por fim estudar
a influência do elemento africano no desenvolvimento do Brasil, sob o ponto de
vista da etnografia, do folclore, da arte, da antropologia, da história, da
sociologia, do direito, da psicologia social, enfim, de todos os problemas de
relações de raça no país. Eminentemente científico, mas também eminentemente
popular, o Congresso não reúne apenas trabalhos de especialistas e intelectuais
do Brasil e do estrangeiro, mas também interessa a massa popular, aos elementos
ligados, por tradições de cultura, por atavismo ou por quaisquer outras razões,
à própria vida artística, econômica, religiosa, do Negro do Brasil. [...]
Como um dos desdobramentos do
Congresso, no dia 3 de agosto de 1937, foi criada em Salvador, a União das
Seitas Afro-Brasileiras da Bahia.
Em 1939, Édison Carneiro
transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde passou a ser colaborador de O Jornal. Posteriormente,
patrocinado pelo Museu Nacional, foi enviado à Bahia para coletar material
sobre cultos populares e encomendar bonecas de pano, em tamanho natural,
vestidas como as diversas divindades africanas.
Casou-se, em 1940, com Magdalena
Botelho de Souza Carneiro, com quem teve dois filhos, Philon (1945) e Lídia (1948).
Voltou ao Rio de Janeiro, onde
trabalhou como tradutor-redator e redator-chefe da agência The Associated Press, no período de 1941 a 1949; redator do
Britsh News Service (1941) e do jornal Última Hora, além de ser colaborador
também do Jornal do Brasil (1956-1966).
Exerceu diversos cargos, entre os
quais o de chefe da Seção de Divulgação do Departamento Econômico da
Confederação Nacional da Indústria e o de chefe da Seção de Estudos e
Planejamento, do Serviço Social da Indústria (Sesi).
Em 1953, foi contratado pela
Coordenação do Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes),
subordinada ao Ministério da Educação e Cultura (MEC), para redigir o seu
Boletim Mensal, trabalho que desenvolveu por dez anos, de 1956 a 1966.
Professor de Bibliografia de
Folclore, do Curso de Biblioteconomia da Biblioteca Nacional e de Cultura
Popular no Instituto Villa-Lobos, ministrou vários cursos como
professor-visitante nas Faculdades de Filosofia de Minas Gerais, Bahia,
Pernambuco e Paraná.
Foi ainda um dos responsáveis
pela estruturação da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro, do MEC,
participando como membro do seu Conselho Técnico, de 1958 a 1961, sendo nomeado
diretor-executivo, no período de 1961
a 1964.
Fez uma viagem à África, com o
objetivo de pesquisar sobre a aculturação dos africanos, especialmente dos
yorubás ou nagôs, na sociedade brasileira.
Publicou diversos livros e
artigos de periódicos nas áreas da etnologia e do folclore, da história e até
da literatura. Entre os quais podem ser destacados: Religiões negras: notas de
etnografia religiosa (1936); Negros bantus (1937); O quilombo dos Palmares
(1947); Trajetória de Castro Alves (1947); Candomblés da Bahia (1948);
Antologia do negro brasileiro (organizador, 1950); O folclore nacional,
1943-1953 (1954); A cidade do Salvador: reconstituição histórica (1954); O
negro brasileiro (1956); Decimália: os cultos de origem africana no Brasil
(1959); A insurreição Praieira, 1848-1849 (1960); Folklore in Brazil, tradução
de Evolução dos estudos de folclore no Brasil, com texto também em francês e
alemão (1963); Ladinos e crioulos: estudo sobre o negro no Brasil (1964);
Dinâmica do folclore (1965); A sabedoria popular do Brasil: samba, batuque,
capoeira e outras danças e costumes (1968);
Folguedos tradicionais (1974); Capoeira (1975). Foi o redator da Carta
do Samba extraída no I CONGRESSO NACIONAL DO SAMBA.
Édison Carneiro morreu no Rio de
Janeiro, no dia 3 de dezembro de 1972.
Recife, 28 de maio de 2010
Assista vídeos:
Assista também Edison Carneiro um intelectual e estudioso
do Candomblé.