João
era filho de Francesco Rubinato e Emma Ricchini, imigrantes italianos
provenientes da pequena cidade de Cavarzere, província de Veneza. Aos dez anos
de idade, sua certidão de nascimento foi adulterada para que o ano de
nascimento constasse como 1910 possibilitando que ele trabalhasse de forma
legalizada: à época a idade mínima para poder trabalhar era de doze anos. Abandonou
a escola cedo, pois não gostava de estudar. Necessitava trabalhar para ajudar a
família numerosa - Adoniran tinha sete irmãos. Procurando resolver seus
problemas financeiros, os Rubinato viviam mudando de cidade. Moravam primeiro
em Valinhos, depois Jundiaí, Santo André e finalmente São Paulo. Em Jundiaí,
Adoniran conhece seu primeiro ofício: entregador de marmitas. Aos quatorze
anos, já adolescente, andava pelas ruas da cidade e, legitimamente, surrupiando
alguns bolinhos pelo caminho
O
compositor e cantor tem um longo aprendizado, num arco que vai do marmiteiro às
frustrações causadas pela rejeição de seu talento. Quer ser artista – escolhe a
carreira de ator. Procura de várias maneiras fazer seu sonho acontecer. Tenta, antes
do advento do rádio, o palco, mas é sempre rejeitado. Sem padrinhos e sem
instrução adequada, o ingresso nos teatros como ator lhe é para sempre
abortado. O samba, no início da carreira, tem para ele caráter acidental.
Escolado pela vida sabia que o estrelato e o bom sucesso econômico só seriam
alcançados na veiculação de seu nome na caixa de ressonância popular que era o
rádio.
O
magistral período das rádios, também no Brasil, criou diversas modas, mexeu com
os costumes, inventou a participação popular – no mais das vezes, dirigida e
didática. Têm elas um poder e extensão pouco comuns para um país que na época
era rural. Inventam a cidade, popularizam o emprego industrial e acendem os
desejos de migração interna e de fama. Enfim, no país dos bacharéis, médicos e
párocos de aldeia, a ascensão social busca outros caminhos e pode-se já sonhar
com a meteórica carreira de sucesso que as rádios produzem. Três caminhos podem
ser trilhados: o de ator, o de cantor ou o de locutor.
Adoniran
percebe as possibilidades que se abrem a seu talento. Quer ser ator,
popularizar seu nome e ganhar algum dinheiro, mas a rejeição anterior o leva a
outros caminhos. Sua inclinação natural no mundo da música é a composição, mas,
nesse momento, o compositor é um mero instrumento de trabalho para os cantores,
que compram a parceria e, com ela, fazem nome e dinheiro. Busca conquistar seu
espaço como cantor – tem boa voz, poderia tentar os diversos programas de
calouro. Aos poucos se entrega ao papel de ator radiofônico; a criação de
diversos tipos populares e a interpretação que deles faz, em programas escritos
por Osvaldo Moles, faz do sambista um homem de relativo sucesso.
O
seu primeiro sucesso como compositor vira canção obrigatória das rodas de
samba, das casas de show: Trem das Onze. É bem possível que todo brasileiro
conheça, senão a música inteira, ao menos o estribilho, que se torna
intemporal. A música, que já havia sido gravada pelo autor em 1951 e não fizera
sucesso ainda, é regravada novamente pelos “Demônios da Garoa”, conjunto
musical de São Paulo. Embora o conjunto seja paulista, a música acontece
primeiramente no Rio de Janeiro, com sucesso retumbante. Arguto observador das
atividades humanas sabe também que o público não se contenta apenas com o drama
das pessoas desvalidas e solitária. Compõe para esse público um dos seus sambas
mais notáveis, um dos primeiros em que trabalhou a nova estética do samba.
Matilde
sabe com quem convive e não só prestigia sua carreira como o incentiva a ser
quem é e como é, boêmio, incerto e em constante dificuldade. Trabalha também
fora e ajuda o sambista nos momentos difíceis, que são constantes. Adoniran
vive para o rádio, para a boêmia e para Matilde. Nos últimos anos de vida, com
o enfisema avançando, e a impossibilidade de sair de casa pela noite, o
sambista dedica-se a recriar alguns dos espaços mágicos que percorreu na vida.
Mas inventa para si uma pequena arte, com pedaços velhos de lata, de madeira,
movidos à eletricidade. São rodas-gigantes, trens de ferro, carrosséis. Vários
e pequenos objetos da ourivesaria popular – enfeites, cigarreiras, bibelôs...
Fiel até o fim à sua escolha. Quando recebe alguma visita em casa, que se
admira com os objetos criados pelo sambista, ouve dele que “alguns chamavam
aquilo de higiene mental, mas que não passava de higiene de débil mental.
Adoniran Barbosa morreu em 1982, aos 72 anos de idade. fonte wikipedia