Nosso amigo Paulinho Amaral se
despediu da gente. Mas é como se já viesse se despedindo ao longo desses seis
anos quando optou por se manter reservado em seu cantinho, brigando solitário
pela vida, tentando curar os males da pressão sempre alta, da gota, do
tratamento de hemodiálise...
Paulinho apesar da solidão que se
impôs me ligava de vez em
quando. Todo ano fazia questão que alguns amigos fossem
almoçar com ele para comemorar seu aniversário. Alegremente eu fazia parte
desse grupo. Nessas várias ocasiões Paulinho sempre contava risonho como foi
que nos conhecemos.
Lembrava então que lá nos tempos
do Bom Motivo, mil novecentos e noventa e alguma coisa, ele, um frequentador do
bar, eu, uma cantora com um primeiro trabalho em disco. Ele prestigiava
e segredava ao dono do bar, Roberto Lapicirella, amigo em comum, que o que
queria mesmo era ser amigo da cantora e daquela turma de músicos tão animada
que tocava e frequentava o boteco. E aconteceu da forma mais inusitada quando
Roberto, sem sua autorização, acrescentou à sua conta um disco meu obrigando-o
a comprá-lo. Sem saída, a única coisa que exigiu foi um autógrafo. Nunca mais
se esqueceu disso.
E a gente manteve uma amizade tão
bonita e sincera. Foi ele quem montou e dirigiu a primeira banda a me acompanhar
– dizia que eu tinha que me profissionalizar. Amante da boa música e de um bom
gosto musical, sugeriu, tocou e me ensinou para o meu repertório, além de
outras tantas, as belas canções “Jamais” (Jacó do Bandolim/Luiz Bittencourt),
“Nenhuma lágrima” (Sueli Costa), “Estrada do Sertão” (João Pernambuco/Hermínio
Bello de Carvalho), afirmando que eram apropriadas para minha voz. Fizeram
realmente a diferença, tanto que vim gravá-las mais tarde nos meus 3º e 4º CDs
e foi como se eu o homenageasse (acho que disse isso a ele, não estou bem
certa, mas acho que disse sim...).
Um dos mais recentes e melhores
presentes que me deu foi sair de seu refúgio depois de tanto tempo sem
frequentar atividades sociais e foi me ver no show de lançamento de meu mais
recente CD, lá no SESC Pompéia, dizendo que não poderia perder. Esse era o meu
amigo Paulo Amaral de muitos e muitos momentos fraternos e demonstrações de
carinho.
Agora ele vai cumprir uma nova
etapa em sua evolução. A espiritualização que começou por aqui busca o tempo de
aceleração. Ele já está sendo mais feliz. Fique em paz meu amigo, você merece.