É comum comentar sobre alguém e
nos referirmos que “a vida o maltratou”, ou então “está aqui somente por
diversão”. O que esquecemos é que cada um sabe da sua dor e da carga que deve
carregar, e pode ter certeza esta carga nunca é mais do que se pode suportar,
por mais que o momento depressivo por que passamos possa sugerir.
Existem pessoas que transitam por
esta vida no anonimato e se não abrirmos nossos corações nos serão
despercebido. Pessoas que não apresentam maldade, incapazes de magoar
voluntariamente e se pronunciam através de ações e não gostam de aparecer.
Todos têm vaidade, no entanto certas pessoas se contentam com a felicidade
causada e se esquecem de sua própria, e por este motivo não lhes é dado o
devido valor.
A tolerância, a paciência são
atitudes desvalorizadas, pois a sensatez não nos obriga a um processo de
auto-defesa, mas a intolerância e a impaciência sim. Os grandes homens de nossa
civilização são proclamados e glorificados por sua liderança e sucesso. Grandes
homens só o são em virtude de centenas, milhares de indivíduos potencializados
e evoluídos que se acotovelam nas multidões para que a engrenagem da vida gire.
Zé Vicente foi um cara simples,
na sua essência e na sua alma. Participativo no futebol de várzea, carregando
sacos de camisas, bolas e chuteiras pelos campos esburacados e barrentos, e
ainda cedendo cômodo de sua casa para guardar estes materiais. Ativo nas
atividades junto a sua comunidade, em sua razão mística, nas quermesses
religiosas, nas devoções a santos de predileção, no sincretismo de sua fé.
Bom profissional, mas disperso na
carreira, tenho certeza que sofreu do assédio do sucesso que os olhos pagãos
nunca enxergaram. Sofreu as mazelas de seu estado de espírito, mas soube
suportar seu peso como poucos. Em confidencias, tive a certeza, apesar de não
declarada, de sua insatisfação quanto a não compreensão de seu ser, pois na
existência, algumas marcas ficam latentes e somente a poucos é dado o
privilégio de enxergar.
Tive o prazer de conviver vários
momentos com Zé Vicente. Alegria, tristeza, esperança, benevolência, fé, afeto,
esquecimento, etc. Incompreendido a nossos olhos, o grande sofrimento nos seus
últimos momentos. A vida nos surpreende a cada momento, a cada instante.
Vou sentir saudades.
Que o Grande Arquiteto tenha lhe
reservado um futuro eterno de paz e harmonia no grande universo da sabedoria, e
que de onde estiver possa continuar a nos abraçar com sua simplicidade.
José Vicente Fernandes nos deixou
no último dia 04/03/2012.
Carlos J F Neto