Homenagem os 400 anos do bairro
de Madureira e o compositor Paulinho da Viola.
Rio - A Portela entregou, na ultima sexta-feira, a
sinopse que vai narrar à história dos seus 90 anos de glória e homenagear os
400 anos do bairro de Madureira e o compositor Paulinho da Viola que no dia 12
de novembro deste ano completa 70 anos.
Na palestra, o carnavalesco Paulo
Menezes explicou que Paulinho será uma espécie de fio condutor do enredo,
elaborado por ele e Carlos Monte.
Ainda no encontro, o coordenador
de carnaval Alex pediu aos compositores portelenses que mantenham o nível do
samba do carnaval 2012. A
obra venceu todos os prêmios de carnaval e ganhou nota 10 de todos os jurados
no desfile na Sapucaí.
A próxima reunião acontecerá no
dia 15 de Junho, para que os poetas da azul e branco de Oswaldo Cruz e
Madureira tire eventuais duvidas.
Confira a sinopse:
"Madureira... onde o meu
coração se deixou levar"
Rio de Janeiro, 1970.
Avenida Presidente Vargas.
"Nesta Avenida colorida a
Portela faz seu carnaval..."
Com o rosto molhado de suor e
lágrimas, vejo a minha Escola conquistar a plateia com mais um desfile. Agora
com um sabor especial, se aquecendo... "senti meu coração apressado, todo
o meu corpo tomado, minha alegria voltar..."
E então pensei:
"Meu coração tem mania de
amor..." E que amor é esse que me conquista a cada dia? Que amor é esse
que move toda essa gente? De onde vem isso tudo e como essa história começou?
E é isso que vou descobrir.
E assim, com a alma aquecida de
emoções, lá fui eu para Madureira, de trem, cantando samba, assim como Paulo
Benjamin fazia décadas atrás.
"Eu canto samba
Porque só assim eu me sinto
contente
Eu vou ao samba
Porque longe dele eu não posso
viver..."
Quero trilhar os caminhos desse
povo, como um "peregrino", descobrir sua gente, sua cultura, sua fé,
o seu canto e o seu samba.
Descobrir sua história.
Pisar onde outrora pisaram
tropeiros, escravos, boiadeiros, mercadores e imperadores, caminhos de trabalho
e suor, onde antes só se viam fazendas, engenhos e fé, afinal toda essa
história começa pela fé.
E o povo dança, o povo canta;
dança o branco, dança o negro.
"Pisei na pedra
A pedra balanceou
Levanta meu povo
Cativeiro se acabou"
Negros fugidos, negros forros.
Festa, jejum e esmola. Samba, dança, música e religião. Enfrentar a dor através
da arte.
Casas de umbanda e casas de
candomblé, liderança e mistério, atraindo a atenção para a "roça".
Caminhos de terra, caminhos de
ferro.
E o povo vai chegando, de tudo
quanto é direção. Imigrantes de dentro e de fora. Os caminhos viram estradas.
Estradas de terra, estradas de
ferro.
Chega o progresso e com ele os
ambulantes, que depois viram mercadinhos, os mercadinhos viram mercados e os
mercados viram mercadões.
E eu... vou seguindo meu caminho.
Vou ouvindo batuques, ritmos e
sons. Sons sincronizados, parecendo sapateado. Mas são apenas sons de pés, que
dançam, chutam e pulam. Pés que vão construindo outros caminhos. Não importa se
num tablado, no asfalto ou na grama, o importante é a ginga, que por vezes me
lembra a de um malandro. Como tantos que esta história construiu. Ou como
tantos que aqui chegaram para construir outras histórias. Malandros loiros,
brancos, mulatos, sararás, crioulos. Assim como as músicas, loiras, brancas,
mulatas, sararás e crioulas, ou como se diz agora: black.
"No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na
dança
Que gente grande saiba ser
criança"
E o batuque continua.
Marchinhas, mascarados, coretos,
baianas, blocos de sujo, carnaval...
São os caminhos da folia!
Caminhos da fantasia, onde cada um é o que deseja ser, onde mulher pode virar
homem e homem, virar mulher. E é através da fantasia, do sonho, que nascem duas
das maiores Escolas de Samba da história.
E que orgulho hoje ver Portela e
Império, juntas, a cantar que esse nosso lugar "que é eterno no meu
coração. E aos poetas traz inspiração pra cantar e escrever".
Madureira é assim. Amor,
atividade intensa, vivida com orgulho suburbano, lugar de morada da altiva
nobreza popular, pois aqui reside a Majestade do Samba.
"Não posso definir
Aquele azul
Não era do céu
Nem era do mar..."
Tantos são os caminhos, e por
eles vou atrás de suas histórias, me sentindo cada vez mais parte integrante
dela, deste lugar e destes caminhos, que hoje se encontram mais uma vez,
afinal...
Sou Paulo, sou Paulinho, da Viola
e da Portela.
E tenho muito orgulho em contar
esta história para vocês, afinal..."o meu coração se deixou levar."
E, agora, o mesmo trem que me
trouxe, me leva de volta, e continuo batucando, não mais como Paulo Benjamin
fazia, mas como todos os Portelenses continuam fazendo ainda hoje, preservando
a sua memória e o seu lugar, que eternamente será conhecido como a
"Capital do Samba".
"Madureiraaa, lá lá
laiá."
Paulinho da Viola,
pelas mãos de Paulo Menezes (e
mais uma vez os caminhos se cruzam).
Este enredo é dedicado aos
noventa anos da Portela e a todos os portelenses que, infelizmente, não estão
mais entre nós, mas que continuam abençoando a Portela lá de cima, do Olimpo
dos sambistas.
Enredo e pesquisa: Paulo Menezes
e Carlos Monte