Desfile
Grupo Especial na Marquês de Sapucai
Horário:- 21h00 – 22h15
Dia 20/02/2012
Sambódromo Marquês de Sapucai
"Uma aventura musical na
Sapucaí"
Sinopse
A São Clemente tem uma espécie de
dever: dever de sonhar, e sonhar sempre!
E assim nossa Escola se constrói
em ouros e sedas,
Inventa palcos, cenários, para
viver o seu sonho:
Lutar quando é fácil ceder,
vencer o inimigo invencível, negar quando a regra é vender; voar num limite
improvável, tocar o inacessível chão!
(Do musical Homem de La Mancha , e da Poesia de
Fernando Pessoa)
ENREDO: UMA AVENTURA MUSICAL NA
SAPUCAÍ
Na escuridão do terceiro-sinal,
foco de luz no mestre-maestro, delirantemente aplaudido pela gente que vai
assistir a aventura musical. Silêncio.
Prólogo: Seguindo o apito e a
batuta, a orquestra no recuo do fosso ataca, e há música encantadora no ar; é
quando a cortina amarelo-negra abre-se lentamente! "Gatos" (Cats)
esgueiram-se na arquibancada/platéia, e vão evocando as "Memórias",
refazendo a História: "Senhoras e senhores, bem-vindos ao desfile do
'Teatro Musical Brasileiro'! E por quê apaixona-se a São Clemente pelo início
do teatro musicado no Brasil? Porque, como ela, as operetas curtas daquele
tempo eram satíricas, críticas e irreverentes. E aproximavam o povão da mais
fina arte! Influência francesa que gerou nos trópicos, um 'u-lá-lá' pra lá da
malandragem. Mais ou menos 1850. bom humor era tudo, rapidez rimava com
qualidade, e, para quem entende, um pingo é letra: a parisiense nasceu na Lapa,
e ia da canção, do xote à valsa, da mazurca ao tango. Só no truque da ingênua
maliciosa, e o diabo que a carregue lá pra casa!".
Luz em resistência. Um
astro vai descendo a alegórica escadaria de luzinhas piscantes, acompanhado
daquilo que secretamente nos bastidores chamamos da sua "Comissão de
Frente": lindíssimas vedetes, em maiôs cavados com franjas de diamantes
falsos e transparência sobre os seios, escoltadas por bailarinos, luxuosamente
vestidos em fraques. A
vida é um "Cabaret". Ouve-se a voz do Mestre de Cerimônia: "Ora,
se os desfiles de Escolas de Samba são os maiores dos musicais de que se tem
notícia, nada melhor que esta grande aventura musical clementiana falar em
ritmo de samba, de como viveu e vive esse grande e longevo negócio, que reúne
na ribalta, empresários, artistas, técnicos: a tal gente do show business –
Nós! Avante legítimas representantes carnavalizadas desta verve, as Comissões
de Frente, espetáculo à parte na Avenida, quando sobem pernas, arrancam roupas,
despertam o aplauso e o inesperado acontece: é a Broadway tupiniquim! A
abertura é mágica!".
O palco/passarela abre-se, e sobe
o espetacular elevador com a sua montanha verdejante onde "A Noviça
Rebelde" rodopia, cantando para as suas crianças que a "Música, é
Divina Música": "Precisa de dinheiro para botar o bloco na rua,
levantar cenários, contratar estrelas, fazer figurinos, vender bilhetes e
acender a rica luz: aí o prazer do público é total, quando a beça Estrela
seminua com cara de safadinha, faz biquinho e começa solfejando os acordes".
Desce da escuridão do urdimento a
magistral teia com a "Mulher Aranha", arrebatadora Rainha e Madrinha
da Companhia. Das laterais, no chão surgem as mulatas com o estonteante
figurino "Sopro de Purpurina". O primeiro setor de assentos, em
suspense, puxa o fôlego, sem acreditar na tamanha opulência flutuante sobre si.
Confetes prateados caem salpicados. A aracnídea está em êxtase, pendurada quase
solta no espaço, e declama coquete: "Leques de plumas abanam em glória a
primeira das grandes: Chiquinha Gonzaga! E o Brasil era cantado em prosa, verso
e música em 1885, com um pé no caipira e outro na cidade grande. Festa de São
João, conversa de botequim, prosa de malandro, vida de bairro, amor feliz.
Artur Azevedo apareceu logo depois, saindo através de uma cortina de gotas de
vidro: adorava meter o pau (ui!) no político-social, sem jamais esquecer
"pernas à mostra e seios nus...". Igualzinho ao carnaval! Olhar bem
humorado, uma forma de ver a vida: temas alegres, língua apimentada e um bububú
no bobobó. Duplo sentido, para um povo cujo sexto sentido avisava que de perto
ninguém é normal".
Uma parede de elásticos brilhosos
é atravessada por ritmistas, quando ouve-se a sirene: - Teatro?, pergunta a
"Bela". – Musical?, devolve a "Fera". – Sapucaí!, Exclamam os
dois juntos. Entre românticos balanços de flores, o casal avança na narrativa:
"A cena, a dança, a cantoria. Sopravam ventos de influência da Liberdade,
América, numa revolução cenográfica e coreográfica. Tiraram a orquestra,
botaram a banda, e o público exigia que arrancassem as meias daquelas pernas
que eles queriam ver em pele.
E veio a fantasia musicada na Praça Tiradentes: era hora das
estrelas de primeira grandeza dando ataque e atraindo multidões, divas da pá
virada em decotes abissais e rabo de penas raras. Fila na porta,
empurra-empurra e o ingresso a tapa: todos pagavam para ver a belíssima e
talentosa Loura falsa".
Do Balcão da Casa Rosada, envolta
na fumaça de gelo-seco e construído do papelão e compensado, "Evita"
abre os braços. E, em vez de cantar "Não Chores por Mim Argentina",
inesperadamente faz seu tributo de amor ao musical brasileiro, porque o
espetáculo não pode parar (a não ser na frente do júri), e continua dobrando a
esquina: "Foi aí que o jogo avançou: girou a roleta do Cassino, porque o
Brasil Pandeiro esquentava seus tamborins e fazia os dados rolarem: todo o país
queria Rosetá e em 1945 Walter Pinto mandava: "Canta Brasil". E não é
que o país resolveu investir? A maquinaria espetaculosa em efeitos de cena se
tornou tão importante quanto as Estrelas. Abre e fecha, sobe e desce, acende e
apaga, ou dá ou desce! Deus é brasileiro, e do limão estrangeiro fez-se uma
limonada à tropicália, e o Brasil conhecia o Brasil. Deu tão certo que o mito
grego de Orfeu, quem diria, foi parar na favela brasileira; e a querida senhora
Pigmaleão armou sua barraca de feira por aqui. Com Carlos Machado o musical
brasileiro alcança sucesso internacional".
Uma gaiola espelhada é trazida
pelo ciclone do "Mágico de Oz" e dentro está a menina Dorothy. Guardas
com cassetetes de strass batem no pobre Homem de Lata. "Os
Miseráveis" surgem pelas laterais, tentando socorrer. Parte triste da
História, tentam calar os Musicais Brasileiros: " A língua do Zé-Povinho
estava afiada e fazia anedotas com a vida dos poderosos. Tudo devidamente
amordaçado pela censura, que fez a cortina fechar pelos idos dos 60. Proibido
proibir deu nó em pingo d'água e fez a tigresa (Sonia Braga) estrelar e deixar
todo mundo de cabelo (Hair) em pé, tal a força deste libelo, que duas vezes o
Brasil aclamou seduzido por tanta qualidade ideológica e musical. Acordes para
os hippies. Faça humor, não faça a guerra, nós temos um sonho: deixe o sol
entrar! Foi uma Roda-Viva para os brasileiros, cuja profissão sempre foi a
esperança. Como Calabar resistiram, a Gota d'água no oceano da
incompreensão".
Deitada numa lua de paetês surge
"Vitor ou Vitória". A indecifrável fala sobre gays, machões e
lembranças musicadas: "Nisso jogaram gliter. Anunciada a era de Aquarius,
houve o rompimento, a mudança, a fuga dos padrões e a busca do novo. Deboche de
músculos másculos, pernas cabeludas, cílios postiços e saltos altos. Foi com os
Dzi croquetes que devolvemos à Europa o que dela tínhamos recebido um século
antes: o vigor do teatro musicado, desta feita, andrógino. Mas isso era só um
lado da moeda. Faltava um pedaço, aquela marca de pegador do brasileiro, do
machão que não é Mané. E a sacada da Ópera do Malandro foi fazer do Brasil um
bordel, quando o homem brasileiro assumiu de vez sua vocação para o cantar,
dançar e interpretar. No rodopio dos 80 e 90, do conteúdo político partimos
para revisitar os mitos de nossa música popular. Ganhou o samba, que viu de
novo Assis Valente, as Irmãs Batista e Elizeth Cardoso, revividas e exaltadas
em grandes montagens; a música popular brasileira virou fio condutor de uma
torrente de paixões".
Todo o elenco internacional de
imorredouros personagens, para sempre em nossos corações, estão em cena. Entraram Arlequins ,
Pierrots e Colombinas para receberem calorosos a carroça brasileira dos
Saltimbancos, que fez cantar gerações seguidas de crianças, e
"Sassaricando, e o Rio inventou a Marchinha...". O flash, a emoção do
sassarico, porque sem sassaricar, esta vida é o "ó"! Maria
Escandalosa junto com a Galinha e o Jumento, brasileiríssimos, cantam
"Yes, Nós temos Bananas". Pós modernos, falam da virada do terceiro
milênio.: O Brasil e o mundo, a aldeia global fazendo prosperar abaixo da linha
do Equador o que antes era reserva de Nova York, Las Vegas, Paris e Londres: o
trânsito de diretores, produtores, autores, a festa das platéias brasileiras. O
mistério extraordinário do musical: Raia equilibrava-se na pequena Loja dos
Horrores; esfregávamos os olhos para saber se era verdade que a mesma Bibi que
cantava o pequeno pardal Piaf, também se rasgava nas entranhas ao cantar os
fados de Amália; Marília podia ser Dalva de Oliveira ou Elis, ou todas Elas por
Ela; e agora José Mayer é o definitivo Violinista no Telhado.
Grande dança final, com toda a
companhia executando impecavelmente a marcação coreográfica e o canto afinado
do Samba-Enredo. Ciclorama da vida, mágica do Teatro, entretenimento
profissional apaixonado. A fagulha que restará eterna. Milhares de
microlãmpadas formam palmeiras artificiais, orgulhosas de serem simulacros. Micos
leão- dourados de acetato caem pendurados. "Deus lhe pague":
"Dizer que conseguimos copiar de maneira impecável as montagens
estrangeiras é pouco: damos um passo à frente, vamos além da virtuose técnica,
adicionamos à perfeição deles o chica-chica-boom da gente bronzeada que faz
pulsar o já montado, de maneira diferenciada. Há um quê de povo renovador em
nós".
Epílogo: surge o Fantasma da
Ópera voando a bordo de seu colossal lustre de cristal. Por trás da mascara
misteriosa, há uma lágrima verde-amarela, de amor a esta gente incansável que
monta Musicais. São os sonhadores: "Musicais são janelas para o imaginário
de um povo, cuja qualidade é viver no País das Maravilhas. Que a Ópera de Paris
seja a Marquês de Sapucaí e que o fantasma vague em nossas memórias,
reafirmando o direito ao sonho. Mascaradas, faces de papel em desfile, é
chegada a hora. Avante brincantes do mundo do carnaval musical, pois não há, no
mundo dos humanos, gente parecida contigo. Vai ter fim a infinita aflição, e o
mundo vai ver uma flor brotar, do impossível chão!".
Feliz é a São Clemente, que da
grandeza deste gênero faz o seu carnaval. Feliz meu samba, que sai pela vida em
alegria incontida, nessa maravilhosa aventura musical.
Revoada de graças translúcidas
parte em direção ao pôr-do-sol, no infinito. O perfil de Carmem Miranda vai
beijando Renato Russo, até desaparecer no Black-out.
Cai o Pano.
Fábio Ricardo
São Clemente 2012
Pesquisa: Tânia Brandão e Marcos Roza
Veja mais:- http://saoclemente.com.br/index.php/en/
Vídeo:
Samba Enredo
Uma aventura musical na Sapucaí
Compositores: Ricardo Góes,
Serginho Machado, Marcos Antunes, FM, Guguinha, Vânia e Flavinho Segal
Prepare o seu coração
É pura emoção
A sirene acabou de tocar
(U-lá-lá)
A orquestra começou
E entoou o meu cantar
Um violino anuncia
Vem viajar na magia
Do meu cabaré, com samba no pé
Vem exibir, pode aplaudir
Será que é sonho meu?
Sucesso aqui vou eu
Põe a máscara pra mim
Vem comigo, a hora é esta
Não sei viver sem você
És o artista, faz a nossa festa
De tudo aconteceu
Puxa! Aqui Paris é avenida
Hoje o malandro sou eu
Vi a tristeza feliz da vida
Dei um susto, o fantasma sumiu
(buuu)
Sou irreverente
Se o samba empolgou, virou
carnaval
Nossa aventura musical
Noviça dançou ao som da canção
E conquistou meu coração
Tem bububu no bobobó
Sem sassarico é o “ó”
Bumbum de fora, pernas pro ar
Bravo! A São Clemente vai passar