Quando falo em cultura, penso em
uma identidade cultural. Para poder ajudar um pouco estou reproduzindo o texto
abaixo para uma profunda reflexão a respeito, e que acho muito oportuno para o
momento. Faço uma prévia sobre o que disse o papa Pio XII (matéria completa
abaixo) –
“O
povo é formado por indivíduos que se movem por princípios ...”
“...A massa é sempre passiva. Ela não age racionalmente e por sua conta.
Mas se alimenta de entusiasmos e idéias estáveis. É sempre escrava das
influências instáveis da maioria, das modas e dos caprichos....”
Depois,
vamos verificar qual o tipo de política cultural que desejamos para nossa
cidade, para o nosso estado e para o nosso país, e qual é a que estamos
recebendo?
Cultura de Massa
Publicado em 01 de novembro de 2008 em Filosofia
Definir cultura é uma tarefa por
demais difícil, já que vivemos um período histórico onde a praticidade toma o
lugar dos conceitos. Ainda mais quando se trata da cultura de massa, ou cultura
popular, onde encontramos a sua presença em nosso dia a dia, porém falta-nos a
reflexão por um momento. Para se chegar de fato a um conceito bem
definido.Segundo Orlando Fideli, cultura de massa em nossos dias é um conceito
amplo, que abrange por muitas vezes a toda e qualquer manifestação de
atividades ditas populares. Assim sendo, do carnaval ao rock, do jeans à
coca-cola, das novelas de televisão às revistas em quadrinhos, tudo hoje, pode
ser inserido no cômodo e amplo conceito de cultura de massa. (FIDELI,2008:1)
Para entendermos melhor essa
expressão "cultura de massa"
precisamos buscar uma definição do que seria "massa" e de "povo". Segundo o papa Pio XII,
numa célebre radiomensagem de Natal no ano de 1944, expressou muito bem o
conceito de "povo" e de "massa". Segundo sua visão,
totalmente filosófica "o povo
é formado por indivíduos que se movem por princípios. Ele é ativo, agindo
conscientemente de acordo com determinadas idéias fundamentais, das quais
decorrem posições definidas diante das diversas situações em que vivem. Assim
ele fala das massas como "um grupo de indivíduos que não se movem, mas que
são movidos por paixões. A massa é sempre passiva. Ela não age racionalmente e
por sua conta, mas se alimenta de entusiasmos e idéias estáveis. É sempre
escrava das influências instáveis da maioria, das modas e dos
caprichos..."
As definições do sumo pontífice
nos faz concluir que as massas jamais discordam da maioria. Jamais procuram
estipular pontos reflexivos que os levem a um senso crítico sobre as
informações que estão sendo assimiladas no momento. A inserção na massa lhe
impõe que se vista como os outros, que coma como os outros, que goste do que
gostam os outros. Ser, pensar, agir, estar sempre, obrigatoriamente, "como
os outros" é amoldar-se inexoravelmente a esse implacável "deus"
chamado "todo mundo".
É renunciar à própria
individualidade, trocando-a pelo amorfo e medíocre "eu coletivo" da
multidão. Essa realidade nua e crua que vivemos nos leva a uma pergunta:
"PODE A MASSA TER CULTURA? " Certa vez alguém definiu cultura, sob o
prisma individual, como aquilo que permanece após ter-se esquecido tudo o que
se aprendeu. Segundo
Denise Macedo Ziliotto é preciso
Transplantar tal conceito para o plano coletivo, podendo afirmar que cultura é
o resíduo, imune à ação do tempo, dos conhecimentos fundamentais dos povos. A
cultura de determinada civilização vem a ser, portanto, o conjunto de seus
valores e conhecimentos perenes. (ZILIOTTO,2003:23)
O termo cultura tem sua origem na
agricultura, em razão da flagrante analogia entre as etapas do cultivo de um
terreno e a formação da cultura humana. Com efeito, a cultura de um terreno
pressupõe sua limpeza de toda sujeira e ervas daninhas, a aragem e o cultivo
dos vegetais desejados. Levando em conta a perspectiva deste conceito análogo,
a plantação deverá obedecer determinadas regras. Será preciso plantar, antes de
mais nada, coisas úteis, eis que uma cultura de ervas daninhas será uma falsa
cultura. Ademais, será necessário plantar em ordem, de maneira que, por
exemplo, cada cereal esteja separado dos demais, a fim de que possa receber o
tratamento que mais lhe convém.
Segundo Sandra Jovchelovitch a
boa cultura exige que se limpem as inteligências de todos os erros e falsas
opiniões que comprometem tudo o que nelas venha a ser plantado. É preciso
"arar" nossas inteligências, habituando-as a pensar. Pois apenas estudar
não significa adquirir cultura: há analfabetos mais "cultos" do que
muitos eruditos. Finalmente será chegado o momento de "plantar",
ordenadamente, verdades úteis em nossa mente. (Jovchelovitch,2001:42)
Segundo Eclea Bosi a cultura de
massa não passa, na verdade, de um oceano de imposições ditadas pelos meios de
comunicação, muitas vezes idênticamente destinadas às mais diferentes regiões e
povos. Não é por outro motivo que as massas, sejam da América, Europa ou Ásia,
apreciam e produzem a mesma arte, vestem as mesmas roupas, gostam das mesmas
comidas. Não é por razão diversa que os estilos, as maneiras, as tradições,
enfim, a cultura peculiar de cada povo vem dando lugar, em larga medida, a uma
triste vitrine universal. (BOSI,2000:102)
Exatamente por não partir
genuinamente dos povos, mas ser sempre uma imposição de cima para baixo, a
pseudo-cultura se mostra indiferente e imune às profundas diferenças
existentes, por exemplo, entre japoneses e italianos, ou entre norte-americanos
e árabes: todos consomem o mesmo hamburguer e tomam coca-cola.
Segundo Pedro Demo algo
totalmente diverso, porém, ocorre em relação ao povo. Este tem movimento
próprio, guardando seus próprios princípios e movendo-se de acordo com eles. Ao
povo é dado, portanto, formar sua própria cultura, reflexo evidente das idéias
fundamentais que o movem. Ao contrário da chamada "cultura" de massa,
a cultura popular tem suas raízes nas tradições, nos princípios, nos costumes,
no modo de ser daquele povo. Desta forma, cada povo produz, por exemplo, uma
arte peculiar, reflexo de suas específicas qualidades, necessariamente diversa
das artes de outros povos. Assim, por exemplo, houve uma verdadeira arquitetura
colonial brasileira, muito diferente da arte de escultores de outros povos. (DEMO,2005:93)
Portanto a cultura de massa é uma
cultura fabricada pela ideologia que tenta se apresentar como sendo a própria
cultura. Porém, a cultura de massa é um sistema de pensamento muito fácil de
desmascarar já que tem por característica primeira "o ser limitado".
A cultura de um povo jamais poderá
ser a cultura de massa, já que a construção da cultura
popular se dá pela experiência
histórica de um povo, que mediante sua própria história constrói sua
identidade.
BIBLIOGRAFIA
FEDELI, Orlando. Cultura Popular
e Cultura de Elite, cultura de massa. São Paulo: Associação Cultural Montfort,
2008. p. 1 .
ZILIOTTO, Denise Macedo.
Consumidor Objeto da cultura. Rio de Janeiro: Vozes, 2003. p. 23.
JOVCHELOVITCH, Sandra. Contextos
do saber Representações, comunidades e cultura. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.
p. 42.
BOSI, Eclea. Cultura de massa e
cultura popular. Rio de Janeiro: Vozes, 2000. p. 102.DEMO, Pedro. Éticas
multiculturais sobre convivência humana possível. Rio de Janeiro: Vozes,
2005. p. 93
Carlos J F Neto