Nenê de Vila Matilde
Segunda noite: dia 9
de fevereiro de 2013 (sábado)
Local: Sambódromo –
Grupo Especial ANHEMBI
Horário:- 22h30
*
Os horários são previsões da Liga das Escolas de Samba de SP e podem sofrer
alterações dependendo da duração de cada desfile
1 - Nenê de Vila
Matilde
Samba-Enredo: “Da
revolta dos búzios a atualidade. Nenê canta a igualdade"
"A igualdade é uma mulher de
ombros largos e risada escandalosa que mete medo aos tiranos e com o povo é
carinhosa"... (Aninha Franco)
Prefácio:
Aqueles que oprimem, enxergam a
Igualdade como uma ameaça a seus interesses eprivilégios, diferentemente
daqueles que estão do outro "lado" da história, que buscam a
Igualdade como única forma de viver numa sociedade justa, em que todos sejam
tratados com o mesmo valor, independentemente de sua classe social ou racial,
mostrando o mundo e repartindo o pão, sendo elas João ou Maria, numa terra de
paz e amplidão.
A Nenê de Vila Matilde,
orgulha-se de suas diferentes raças, credos e classes sociais, pois Igualdade é
liberdade e não repressão!De uma forma alegre e descontraída, sonhando com um
país de direitos e liberdade, queremos homenagear todos aqueles que dedicaram e
dedicam suas vidas a lutas, batalhas e acima de tudo, a oportunidades de
Igualdade...pois ninguém é de ninguém, mais podem ter os mesmos objetivos!
Desenvolvimento:
1º SETOR: A REVOLTA DOS BÚZIOS, UMA HISTÓRIA DE IGUALDADE!
A história do nosso povo é uma história
de lutas, conquistas e também de uma brutal repressão, em que o povo sempre
soube que é o sujeito e não o objeto da história. Heróis ocultos, organizam-se
e lutam; veem além dos passos que estão a dar. A Revolta dos Búzios (nome dado
devido ao fato de os revoltosos usarem búzios presos no punho para facilitar a
identificação entre si), também conhecida como a revolta dos Alfaiates ou
Conjuração Baiana, que ocorreu em 1798, na cidade de Salvador, foi a mais
importante manifestação anticolonial e de luta pela igualdade racial da
história do Brasil.
Propunha um movimento que, embora
abortado no nascedouro, assumiu imenso significado para a história do país,
pois os seus ideais estavam muito a frente de seu tempo. Pregavam a proclamação da República, o livre
comércio, a abertura dos portos e a abolição da escravatura um século antes do
mesmo acontecer. Compartilhavam dos ideais de Igualdade, liberdade e
fraternidade colocados em circulação na Europa do século XVIII, graças à
Revolução Francesa. Conviviam com a
cruel escravidão e um país em precárias e insalubres condições de vida para o
povo. Era um momento de caos social! Altos impostos cobrados pela coroa
portuguesa faziam com que pequenos comerciantes se manifestassem contra o
sistema econômico, além de intelectuais inconformados com a desigualdade e
soldados indignados com os baixos salários. Tudo isto fez com que surgisse, num
primeiro momento, uma articulação entre os jovens negros conscientes. Na linha de frente destacavam-se o alfaiate
João de Deus do Nascimento, os soldados Luiz Gonzaga das Virgens e Manoel
Faustino dos Santos e o jovem Lucas Dantas, que tinham em comum a consciência
racial; conviviam e combatiam a discriminação da qual eram vítimas, sabiam ler
e escrever, eram revolucionários!
Manhã de Agosto de 1.798! O povo
"Bahiense" viu suas ruas serem tomadas pelos revolucionários Luiz
Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas, que iniciam uma panfletagem como forma de
obter mais apoio popular e incitá-los à rebelião. A cidade amanheceu com um manifesto
que dizia palavras de liberdade, igualdade e justiça, o que as autoridades
coloniais chamavam de "abomináveis princípios franceses".
Quando soube de tais panfletos, o
governador da capitania da Bahia, D. Fernando José de Portugal e Castro, ordenou
que arrancassem e investigassem quem estava escrevendo tais
"desaforos".
Após a delação feita por pessoas
infiltradas no movimento, os líderes da revolução foram presos um a um. Durante
essa fase, centenas de pessoas foram denunciadas: militares, religiosos,
funcionários públicos e pessoas de todas as classes sociais. No inquérito
aberto pelo governo, apareciam nomes importantes e influentes da Bahia. Nesta
hora, todos tentaram se livrar acusando uns aos outros dizendo que nada tinham
haver aquela revolta. Apenas quatro líderes, em atitudes heroicas mantiveram-se
firmes em suas declarações: não negaram, e sim, confessaram a participação;
tiveram a bravura de mártires!
No final, diferentemente dos
representantes das classes ricas que conseguiram escapar da punição, nossos
quatro heróis foram condenados à morte por enforcamento.
Nesse mesmo ideal de luta e
Igualdade, a Nenê de Vila Matilde, alça voos e põe às claras essa história tão
pouco conhecida pelos brasileiros. E hoje, depois de dois séculos, João de Deus
do Nascimento, Lucas Dantas, Luiz Gonzaga das Virgens e Manoel Faustino dos
Santos, têm seus nomes incluídos no livro dos heróis brasileiros, no Panteão da
Pátria em Brasília: "O Livro de Aço"!
2º SETOR: UM POVO QUE SEMPRE LUTOU PELA IGUALDADE!
A igualdade sempre foi um ameaça
aos poderosos, que contavam com a escravidão e a repressão para manter seus
privilégios. Por outro lado, essa
repressão alimentou o desejo de justiça por parte do povo. Ao longo na nossa
história, surgiram relatos de verdadeiros núcleos de resistência ao regime
opressor, em que as pessoas poderiam viver tranquilamente numa sociedade justa,
como os quilombos, símbolo da resistência negra ao cruel regime escravocrata.
Outro núcleo duramente perseguido
pelos poderosos foi a comunidade criada pelo beato Antônio Conselheiro, chamada
Canudos, que simbolizou a luta e a resistência das populações marginalizadas do
sertão nordestino no final do século XIX. Embora derrotados, mostraram que não
aceitavam a situação de injustiça social que reinava na região.
No Pará, a revolta popular contra
a desigualdade social fez surgir a Cabanagem, considerado um dos principais
movimentos rebeldes do Brasil e ainda nos dias de hoje, pesquisado por seu
caráter único, já que foi considerada por historiadores, a primeira revolta em
que as camadas populares chegaram, efetivamente, ao poder.
As ações sociais e ideológicas
também podem ser fatores importantes para o combate a desigualdade. Um
importante exemplo disso foi a contribuição do Olodum para a reconstrução do
então destruído bairro baiano do Pelourinho.
Quando o Olodum foi fundado, em
1979, o Pelourinho era reduto de marginalidade e prostituição, e as únicas
metas do bloco eram chamar a atenção para a degradação do centro histórico de
Salvador e divulgar a música, a dança e os costumes africanos. Três décadas e
muitos trabalhos de inclusão social depois, o Olodum ajudou o mundo a abrir os
olhos para o Pelourinho. Boa parte dos seus casarões foram restaurados e
revitalizados. O centro histórico recebeu da UNESCO o título de patrimônio
cultural da humanidade e, desde então, é a atração mais visitada pelos turistas
que chegam à capital baiana. Uma prova que nem sempre é preciso pegar em armas
para lutar pela igualdade social; basta apenas dedicação e identidade!
3º SETOR: A LUTA CONTINUA!
Nos nossos dias, podemos perceber
que os mesmos ideais que motivavam os quatro heróis da Revolta dos Búzios
continuam vivos e atuais. Com o passar do tempo, ganharam novos temas e
cenários; porém, a luta pela igualdade não deixou de ser o principal desejo de
todos.
O combate à injustiça social e ao
grande abismo que ainda separam os ricos dos pobres mobilizam pessoas e
entidades pelos quatro cantos do país, que defendem uma melhor distribuição de
renda. Hoje, a luta pela reforma agrária
e o direito a moradia nas grandes cidades são temas que não podem ser
esquecidos por um país que deseja figurar entre as nações mais desenvolvidas do
mundo.
Sindicatos fortes e atuantes
defendem a bandeira por melhores salários e condições de trabalho, que são
essenciais para a diminuição das diferenças sociais, assim como o acesso a
educação, que é, sem dúvida, a principal ferramenta para a construção do Brasil
que tanto sonhamos. Somente com medidas
como o combate ao analfabetismo, universidade para todos e as cotas raciais,
poderemos ter num futuro próximo, uma geração de brasileiros que desfrutará dos
benefícios de viver num lugar com igualdade de condições.
Desejamos um país justo, em que a
cor da pele não seja fator determinante para conquista de privilégios; em que
negros, brancos e índios sejam tratados da mesma maneira; que as injustiças
históricas deem lugar a um novo tempo...O tempo da igualdade!
4º SETOR: IGUALDADES INDIVIDUAIS
Nos últimos anos, a mulher tem
conquistado cada vez mais espaço na nossa sociedade, fruto da sua luta árdua
pela igualdade de direitos com os homens. Foi-se o tempo da submissão! A mulher
moderna, embora ainda sofra injustiças, pouco a pouco vem ocupando um espaço
que tempos atrás não era imaginado, seja no trabalho, na escola e até na
política.
Há de chegar o dia em que as
pessoas não serão julgadas e perseguidas por causa da sua orientação sexual, em
que tanto faz ser hétero ou homossexual para a conquista de direitos civis
básicos de igualdade perante a sociedade.
A luta pela igualdade muitas
vezes dura a vida inteira. Isso é fácil constatar quando uma pessoa chega a uma
idade avançada e nota que as portas do mercado de trabalho ignoram sua
experiência e se fecham para ela, como se a velhice fosse um atestado de
incapacidade. Julgamento semelhante recebem os portadores de necessidades
especiais, ao terem que provar, dia após dia, que são aptos a realizarem as
mesmas tarefas de qualquer outra pessoa e que o fato de não enxergarem ou
estarem numa cadeira de rodas não os tornam diferentes de ninguém.
Um verdadeiro templo sagrado de
Igualdade é a Escola de Samba, lugar de gente bamba, onde pessoas de diferentes
raças e classes sociais convivem na mais perfeita harmonia.
A Nenê de Vila Matilde orgulha-se
por compartilhar e celebrar os ideais de Igualdade, pois pertence a um mundo
que sempre recebeu sem discriminação ou preconceitos. Não podemos ser apenas
navegantes da vida, imaginando o último porto, e sim vivenciando todos os dias
a Igualdade. Ninguém é de ninguém, mas podemos ter os mesmos objetivos, fazendo valer a pena a importância do nosso
pavilhão, pois a eternidade é a avesso do tempo, em que as pessoas não morrem,
ficam encantadas...
E assim, no cenário da maior
festa popular do mundo, no ritmo contagiante de nossa bateria, o manto azul e
branco exalta este canto...
"O Canto da Igualdade".
Letra Samba Enredo
Compositores: Cláudio
Russo, J. Veloso, Marquinhos, Ney do Cavaco, Medina
Intérprete:
Luizinho Andanças
Quando a igualdade não havia
A Revolta foi a via
Contra a força da opressão
Uma voz se ergueu outras mais então
Movimento que surgia...
Salve o povo da Bahia!
Sei que a rebeldia que trago no peito
Tenho direito de eternizar
O canto libertário que se espalha pelo ar
Lutar, acreditar, sonhar... ser mais Brasil
Criar a pátria amada mãe gentil
Há nos Búzios a
mensagem de cada irmão
No Quilombo novos
ares libertação
Em Canudos
Conselheiro, e a sua fé
Cabanagem no Pará, na
Nenê samba no pé
Vai o baticum do Olodum no pelourinho
Um só coração, um só caminho
Canto à igualdade, levo à união
Venço toda a discriminação
Sonhei que a terra é do agricultor
Cidadão encontrou o abrigo do lar
Eu vi a força unificando a luta sindical
Mulheres defendendo um ideal
De volta ao seu lugar a Zona Leste incendeia
O Anhembi vai levantar
A minha Vila tem sangue na veia
Chegou, chegou no
templo do samba
O gueto da gente, a
mais querida
No coração Matildense
Nenê é minha Águia,
minha vida...
Assista vídeo: